Ao longo deste ano lectivo, tentei diagnosticar e apresentar soluções para a pastoral da escola católica onde trabalho. Senti que havia de base algo de errado mas não conseguia perceber exactamente o quê. Fazíamos actividades, reuniões, missas e inúmeras apresentações powerpoint mas faziam-me imensa confusão não termos objectivos claros nem nunca ninguém me poder dizer o PORQUÊ dos nossos esforços e correrias sem sentido. Parecia ser para dar nas vistas, para manipular os alunos ou porque “estava previsto”.
Nada disto seria grave se desse frutos e se fosse bom para os alunos. Só que estou convencida que quando Deus diz na Bíblia que o mais importante é sinceridade de coração… ele tem razão! Fazer as coisas pelas razões erradas nunca pode dar certo a longo prazo. E algo do que passávamos aos alunos no meio deste frenesim de actividades parecia estar gravemente errado. Até ao ponto de eu achar que é melhor fazer nada do que fazer assim mal feito e os alunos saírem duma escola católica com uma alergia violenta ao catolicismo.
Só no final do ano consegui diagnosticar o problema: a doutrina da justificação. Toda a mensagem “cristã” que se passava era: sê bem comportado, Deus gosta de quem estuda, ajuda os teus pais a lavar a loiça, etc. Era tudo sobre “ser mais e melhor” e no fim de cada celebração levava-se um “compromisso” para se fazer. Três vezes por ano havia uma festa que era precedida por uma “revisão de vida e reconciliação”. Assim, as únicas alturas em que os alunos eram obrigados a ir a algo “pastoral” era para reflectirem sobre a sua vida num exame de consciência guiado… ou seja, verem o que estavam a fazer bem ou mal e saírem com um compromisso para fazer melhor. E para que é que Deus servia? Não sei… Ele só quer que sejamos todos felizes!
Eis o problema… toda a concepção do cristianismo é baseada em obras. Uma auto-ajuda (e não “divino-ajuda”) em que nos transformamos em super-homens e mulheres. Claro, só os meninos bem comportados e bons alunos vinham à catequese. Toda a mentalidade do SUCESSO da sociedade moderna transformada em religião. O comentário mais frequente entre professores era “então, não fazes nada? Boa vida!” Fazer, fazer, fazer!
E este diagnóstico acompanhou o meu percurso pessoal ao longo do ano, em que me confrontei de forma muito dura com o meu fracasso. E percebi… Deus gosta dos falhados! Ou seja, dos que ADMITEM que são falhados. O fracasso é o nosso maior professor. Reli um livro que tinha lido há algum tempo, The Ragamuffin Gospel, em que o tema ao longo de vários capítulos é sempre o mesmo: Deus gosta de nós independentemente do que fazemos. Jesus foi obcecado com os falhados, pobres, vagabundos e marginalizados no Evangelho. Deparei-me com os meus vícios e vi que a única solução possível, como diz a primeira regra dos alcoólicos anónimos, é admitir que não tenho poder nem controlo sobre a minha situação. Li um artigo em que se sublinha a receptividade de Maria, a primazia em acolher o dom de Deus: “Sou primeiro um acolhedor do dom de Deus, ou faço sempre o primeiro passo, sozinho, com a minha própria força, e com a minha própria agenda?” (http://tobinstitute.org/newsItem.asp?NewsID=58) Pensei em Taizé, onde não se faz mais nada senão viver o Evangelho… rezar e partilhar. E a pastoral juvenil não parece estar muito má por lá.
Os protestantes criticaram a Igreja Católica e a sua obsessão com obras na Reforma no século XVI e com razão podem continuar a criticar hoje… pelo menos a Igreja em Portugal. Porquê com uma declaração em conjunto das igrejas protestantes e Católica, a dizer que estão de acordo sobre os pontos essenciais da doutrina da justificação, que só Deus nos pode salvar que nós realmente somos muito fraquinhos, continuamos a ser auto-suficientes? Como diz o autor do livro acima referido, professámos que Deus é omnipotente com as nossas palavras mas na prática actuamos como se ele estivesse em coma. No final do ano, soube que uma escola nossa “irmã” pensou num tema do ano: ser mais. Quis propor outro tema: ser menos. Ou pelo menos: fazer menos. (Só que sei que seria como falar chinês…)
Declaração Conjunta Sobre a Doutrina da Justificação:
http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/chrstuni/documents/rc_pc_chrstuni_doc_31101999_cath-luth-joint-declaration_po.html
17. Compartilhamos a convicção de que a mensagem da justificação nos remete de forma especial ao centro de testemunho neotestamentário da ação salvífica de Deus em Cristo: ela nos diz que como pecadores devemos nossa vida nova unicamente à misericórdia perdoadora e renovadora de Deus, misericórdia esta com a qual só podemos ser presenteados e que só podemos receber na fé, mas que nunca - de qualquer forma que seja - podemos fazer por merecer.
20. Quando católicos dizem que o ser humano "coopera" no preparo e na aceitação da justificação por assentir à ação justificadora de Deus, eles vêem mesmo nesse assentimento pessoal um efeito da graça, e não uma ação humana a partir de forças próprias.
Nada disto seria grave se desse frutos e se fosse bom para os alunos. Só que estou convencida que quando Deus diz na Bíblia que o mais importante é sinceridade de coração… ele tem razão! Fazer as coisas pelas razões erradas nunca pode dar certo a longo prazo. E algo do que passávamos aos alunos no meio deste frenesim de actividades parecia estar gravemente errado. Até ao ponto de eu achar que é melhor fazer nada do que fazer assim mal feito e os alunos saírem duma escola católica com uma alergia violenta ao catolicismo.
Só no final do ano consegui diagnosticar o problema: a doutrina da justificação. Toda a mensagem “cristã” que se passava era: sê bem comportado, Deus gosta de quem estuda, ajuda os teus pais a lavar a loiça, etc. Era tudo sobre “ser mais e melhor” e no fim de cada celebração levava-se um “compromisso” para se fazer. Três vezes por ano havia uma festa que era precedida por uma “revisão de vida e reconciliação”. Assim, as únicas alturas em que os alunos eram obrigados a ir a algo “pastoral” era para reflectirem sobre a sua vida num exame de consciência guiado… ou seja, verem o que estavam a fazer bem ou mal e saírem com um compromisso para fazer melhor. E para que é que Deus servia? Não sei… Ele só quer que sejamos todos felizes!
Eis o problema… toda a concepção do cristianismo é baseada em obras. Uma auto-ajuda (e não “divino-ajuda”) em que nos transformamos em super-homens e mulheres. Claro, só os meninos bem comportados e bons alunos vinham à catequese. Toda a mentalidade do SUCESSO da sociedade moderna transformada em religião. O comentário mais frequente entre professores era “então, não fazes nada? Boa vida!” Fazer, fazer, fazer!
E este diagnóstico acompanhou o meu percurso pessoal ao longo do ano, em que me confrontei de forma muito dura com o meu fracasso. E percebi… Deus gosta dos falhados! Ou seja, dos que ADMITEM que são falhados. O fracasso é o nosso maior professor. Reli um livro que tinha lido há algum tempo, The Ragamuffin Gospel, em que o tema ao longo de vários capítulos é sempre o mesmo: Deus gosta de nós independentemente do que fazemos. Jesus foi obcecado com os falhados, pobres, vagabundos e marginalizados no Evangelho. Deparei-me com os meus vícios e vi que a única solução possível, como diz a primeira regra dos alcoólicos anónimos, é admitir que não tenho poder nem controlo sobre a minha situação. Li um artigo em que se sublinha a receptividade de Maria, a primazia em acolher o dom de Deus: “Sou primeiro um acolhedor do dom de Deus, ou faço sempre o primeiro passo, sozinho, com a minha própria força, e com a minha própria agenda?” (http://tobinstitute.org/newsItem.asp?NewsID=58) Pensei em Taizé, onde não se faz mais nada senão viver o Evangelho… rezar e partilhar. E a pastoral juvenil não parece estar muito má por lá.
Os protestantes criticaram a Igreja Católica e a sua obsessão com obras na Reforma no século XVI e com razão podem continuar a criticar hoje… pelo menos a Igreja em Portugal. Porquê com uma declaração em conjunto das igrejas protestantes e Católica, a dizer que estão de acordo sobre os pontos essenciais da doutrina da justificação, que só Deus nos pode salvar que nós realmente somos muito fraquinhos, continuamos a ser auto-suficientes? Como diz o autor do livro acima referido, professámos que Deus é omnipotente com as nossas palavras mas na prática actuamos como se ele estivesse em coma. No final do ano, soube que uma escola nossa “irmã” pensou num tema do ano: ser mais. Quis propor outro tema: ser menos. Ou pelo menos: fazer menos. (Só que sei que seria como falar chinês…)
Declaração Conjunta Sobre a Doutrina da Justificação:
http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/chrstuni/documents/rc_pc_chrstuni_doc_31101999_cath-luth-joint-declaration_po.html
17. Compartilhamos a convicção de que a mensagem da justificação nos remete de forma especial ao centro de testemunho neotestamentário da ação salvífica de Deus em Cristo: ela nos diz que como pecadores devemos nossa vida nova unicamente à misericórdia perdoadora e renovadora de Deus, misericórdia esta com a qual só podemos ser presenteados e que só podemos receber na fé, mas que nunca - de qualquer forma que seja - podemos fazer por merecer.
20. Quando católicos dizem que o ser humano "coopera" no preparo e na aceitação da justificação por assentir à ação justificadora de Deus, eles vêem mesmo nesse assentimento pessoal um efeito da graça, e não uma ação humana a partir de forças próprias.
É Deus que nos salva, não nós próprios: http://www.youtube.com/watch?v=fIjjXl9zmH8