13 de outubro de 2010

Esta teologia não é para leigos

Apontamentos sobre o discurso teológico nas redes sociais

Ao navegar pela internet, sobretudo nas redes sociais, e ao, nelas, interagir com outros, descobri, pelo menos, um facto curioso, relacionado com o ofício teológico, que julgo merecedor de reflexão atenta e cuidada.
O facto é muito simples, e tem a ver com o título deste post. A teologia - o discurso teológico - só é bem aceite (pelos cristãos, leia-se; os outros aceitam mal qualquer discurso teológico, de resto aproveitando para atacar a Igreja, sobretudo na sua dimensão hierárquica, e ridicularizá-la, bem como a toda a mensagem cristã...) quando feita por clérigos (sobre a excepção que confirma a regra falaremos adiante).
Dou um exemplo concreto: se um padre, de uma Ordem ou Congregação religiosa ou não, discursa sobre o estado do mundo, denunciando o que está mal, proclamando a necessidade de novas relações humanas, fundadas no respeito entre os homens, no reconhecimento do outro como irmão, etc., é um herói, que tem coragem de remar contra a maré, de enfrentar um mundo adverso à mensagem cristã, e está a contribuir decisivamente para a mudança de mentalidades e comportamentos. Se for um leigo a fazê-lo, sobretudo se for teólogo, não passa de um idealista, que não sabe que o mundo não vive de ideias bonitas (ainda que estas se enraízem no Evangelho!).
Lugar à parte têm os leigos estudiosos por conta própria (contra os quais não tenho nada contra, desde que sejam portadores de inteligência e honestidade intelectual) que produzem verdadeiros tratados teológicos (ainda que sem qualquer fundamento científico, próprio de uma Teologia que quer ter lugar na "casa da ciência"; mas que interessa isso a estas pessoas?) para as redes sociais, e que, mesmo que sem passar pelo escrutínio do sensus fidei e do sensus ecclesiae são aclamadíssimos.
Mas a verdadeira questão, hoje, não está em denunciar esta separação, antes está em darmos as mãos (clérigos e leigos teólogos) e em juntar as nossas ideias e as nossas acções para mudar o mundo. Uma Teologia que perca a dimensão de ciência, por um lado, e a dimensão prática, concreta e palpável de presença no mundo - a que podemos chamar de pastoral - vai, concerteza, perder quer o seu lugar na "casa da ciência" quer o seu interesse para a vida das pessoas. E sem isso, ela deixa de ser coisa alguma. Está nas nossas mãos conservar a Teologia. Que o saibamos fazer, com a inteligência e com as mãos, para não sermos acusados de idealismo nem, por outro prisma, de viver uma acção social desligada da fé. Que a nossa vida seja fé, esperança e caridade, para que no fim permaneça o Amor.

(este texto, originalmente aqui, pretende servir de contributo para a reflexão a fazer na próxima tertúlia [na qual não posso desde já garantir a minha presença. Confirmá-lo-ei mais próximo da data...]. Aqui, procurei responder ao desafio de uma teologia o mais prático e actual possível)

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