"Quem acolher este menino em meu nome,
é a mim que acolhe,
e quem me acolher a mim,
acolhe aquele que me enviou;
pois quem for o mais pequeno entre vós,
esse é que é grande."
Lucas 9,48
Mas que noites chuvosas tem este Advento!... Intempéries.
Chuva, lama, vento e frio, possibilitam tornar o Natal num momento caseiro e acolhedor para uns, mas ao mesmo tempo ingrato e triste para outros que não partilham do calor de uma casa, de uma família, de um gesto.
Aqui, envio-vos um conto.
Aproxima-se o dia da natividade do pequenito.
Será ali, nas traseiras daquele casebre.
Quando estiverem com Ele ao colo, aqueçam a noite de alegria, e contem-Lhe esta história!
HISTÓRIA ANTIGA
Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.
E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.
Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
Miguel Torga
Antologia Poética
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