16 de setembro de 2010

O Efémero e o Perene

O Abade Pambo, na hora da sua morte disse:
«Desde que cheguei a este deserto e construí uma cela que depois habitei,
não me lembro de alguma vez ter comido pão
sem primeiro havê-lo ganho com as minhas próprias mãos,
nem ter lamentado, até hoje, uma palavra dita.
Mas agora que me vou apresentar ao Senhor,
é como se nunca tivesse começado a servi-lo.»
Pambo, 8



Ultimamente tenho trabalhado nas Conferências sobre o Centenário da República cujos campos: religião, sociedade, cristianismo e política, estão bem patentes. Neste post, pretendo partilhar convosco algumas perguntas e pontos interessantes de reflexão que surgiram ao longo desse trabalho. E portanto, mais do que chegar a qualquer conclusão, espero deixar elementos de reflexão.

Numa das conferências, D. Manuel Clemente falava sobre a Primeira República referindo a certa altura uma muito badalada frase que se diz ser e não ser de Afonso Costa – Ministro da Justiça e dos Cultos (1911), grande responsável pela Lei da Separação entre a Igreja e o Estado, e personalidade dita por muitos como anti-católica fervorosa – a frase era algo como: “Com esta Lei da Separação a religião acabará em Portugal em duas gerações e assim acabará a principal causa das desgraças do país”!
Ora, isto é tão interessante como curioso, e hoje, alguns, como eu, até acham isto cómico. Sim, porque muitos são os que defendem que esta Lei de Separação foi um dos principais factores de reacendimento da chama do catolicismo em Portugal. Anos depois desta lei entrar em vigor, foi ver o alvoroço do catolicismo em Portugal que aumentou ainda mais, e anos depois deu-se uma implementação considerável da Acção Católica Nacional e também o borbulhar de movimentos e mais movimentos católicos. Parece que o feitiço se virou contra o feiticeiro! Mas é interessante verificar, ainda assim, como o catolicismo se vai modificando com o tempo, ajudando a que, em termos concretos e existênciais, a sua auto-compreensão no mundo se torne mais próxima da sua própria natureza. Por exemplo, neste caso da Primeira República, um dos resultados foi o da sua própria auto-compreensão, isto é, a autonomia da Igreja face ao Estado, e, como dizia D. Manuel Clemente nessa mesma conferência, “nunca aquela frase de Jesus: «Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus» (Mt 22,21), foi tão utilizada como nos últimos dois séculos.”
E sabemos bem como o combate e o debate fazem com que o questionamento exista. Como surgiram algumas das mais importantes definições da Igreja senão através do combate com outras correntes religiosas, filosóficas, metafísicas?
Como estudante de teologia e leigo, dou por mim inserido no vasto mundo social, numa vivência acostumada e rodeada pela incompreensão por algo que sou e vivo. Incompreensão de familiares, amigos, conhecidos e desconhecidos que, ainda que não partilhem a minha fé, partilhamos amor, amizade, fraternidade. Digo incompreensão pois não creio que o desejo de muitos, numa óptica lúcida, seja a destruição de algo como Deus ou a Igreja, cuja imagem que têm é desconhecida. E digo lúcida para não referir aquela outra visão de Deus e da Igreja como uma espécie de teoria da conspiração mystique-gazeux à la Dan Brown que maioria das vezes não é senão um motivo de conversa de elevador (como falar do tempo).
Por outro lado, considero curioso como o interior do próprio ser-humano parece encontrar formas de uma auto-desresponsabilização, ou seja, acusar algo exterior a si mesmo para culpar as “desgraças do país” em que se vive, ou se se preferir, do mundo em que se vive, e porque não, da Igreja em que se vive. Não é por acaso que uns gostam de culpar o governo dos Estados Unidos, outros gostam de culpar o Sócrates, outros o Queiroz e outros gostam de apontar o dedo à Igreja!...
Assim, por exemplo, é bem interessante a teoria da Ética Partilhada de Enzo Bianchi. O próprio nome diz tudo, mas que em palavras breves consiste no trabalho de aprofundar e dialogar através da partilha do tesouro ético (ou moral) comum a todos, para assim se viver num ambiente de verdade, liberdade, justiça e amor, ou seja, em paz. Não obstante, um problema surge quando a indiferença pelo outro ou pela transcendência ocupa um lugar de presença ao invés de uma ausência. Mas, como afirmara o nosso caro Matos Ferreira, uma das grandes propostas ao crente hoje é “ajudar a ver”. Só que através das palavras de Jesus Cristo é interessante verificar que ser sal na terra ou luz do mundo ou fermento do pão, ou trabalhador da seara de trigo, quase que induz (ou induz mesmo) à conclusão de uma “missão” confiada a alguns e não a todos. Não falo em "agradar a gregos e a troianos", nem que a salvação é ou não “dada” a todos os homens, ou algo nestas linhas, refiro-me, isso sim e exactamente, ao pormenor de quantidade. Por exemplo, na mesma conferência D. Manuel refere um estudo muito interessante de Justino Maciel (Prof. Universitário). O estudo versa sobre S. Martinho de Dume (século VI), Frei Bartolomeu (século XVI) e umas Observações Sócio-Pastorais de Braga do século XX. Ao analisá-las, Maciel verificou que cada um destes tempos apontam para condições sócio-pastorais muito semelhantes, isto é, prática religiosa reduzida, observâncias religiosas reduzidas, superstições no dia-a-dia, magias, etc. No final, a conclusão a que Maciel chegou é que em termos de vivência do cristianismo do Povo de Deus (neste caso, de Braga), não existem grandes diferenças entre os séculos VI, XVI e XX!! Ou seja, estamos a falar de um espaço temporal de cerca de 1300 anos! No final desta observação D. Manuel Clemente termina por dizer: «esta história do pequeno rebanho se calhar é para levar a sério!...» Ora, isto é muito curioso.
Para terminar, um último ponto. Outra das conferências, cujo orador foi Rui Ramos (Prof. Universitário), achei interessante que ele referisse que após o 25 de Abril o então fundador do partido socialista, Mário Soares, não quis repetir alguns erros da Primeira República, nomeadamente, o de entrar em combate contra a Igreja, pois iria contra a própria consciência democrática que o país queria viver. E de facto, com o 25 de Abril, o combate contra a Igreja através do campo político, em grande medida, não existiu. Contudo, se bem que a liberdade ajudou à democracia, abertura e convivência entre crentes de várias confissões, religiões e não crentes, a falta de “oponentes” talvez tenha contribuído para algum esmorecimento do catolicismo pós-74. Ora, a meu ver, curiosamente, nos últimos tempos (talvez 15 anos) temos assistido a debates provenientes, por exemplo, das questões morais, cuja imagem ou tendência parece, muitas vezes, partir de uma vertente política de grande força como são as teorias político-económicas comunistas ou marxistas, e que, apesar de na memória do homem do século XXI não comparecerem visivelmente as consequências sociais de tais sistemas político-económicos, certo é que de maneira geral há um esvaziamento na moral e esta carece de semântica.
Ora, a meu ver, o interessante está aqui: face a tais “posições”, diríamos, “radicais”, observamos movimentos católicos que se mobilizam “contra”, dando aso a uma mobilização e um despertar raramente visto. À primeira vista, parece que encontram, face às investidas do exterior, uma razão de ser, e em certa medida, um sentido, que parecia não encontrarem ou estar adormecido no seu próprio interior se de fora nada os incomodasse. Há, então, uma nova questão. Porque estava desaparecido ou adormecido tal sentido? Ou, para ilustrar esta pergunta, deixo-vos com uma questão retirada de uma cena de Waking Life*:

- Existem dois tipos de sofredores: aqueles que sofrem da falta de vida e os que sofrem da abundância excessiva de vida. Eu sempre me posicionei na segunda categoria.
Quando se pensa nisso, quase todo comportamento e actividade humana são, essencialmente, nada diferentes do comportamento animal. As mais avançadas tecnologias e artefatos levam-nos, no máximo, ao nível do super-chimpanzé. E na verdade, o hiato entre Platão ou Nietzsche e o humano mediano é maior do que o que há entre o chimpanzé e o humano mediano.
O reino do verdadeiro espírito, o artista verdadeiro, o santo, o filósofo, é raramente alcançado.
Porquê tão poucos? Porque é que a História e a evolução não são histórias de progresso mas uma interminável e fútil adição de zeros?
Nenhum valor maior se desenvolveu...
Os gregos, há 3.000 anos, eram tão avançados quanto somos hoje. Quais são as barreiras que impedem as pessoas de alcançarem, minimamente, o seu verdadeiro potencial?
A resposta a isso pode ser encontrada em outra pergunta, que é:
Qual é a característica humana mais universal? O medo ou a preguiça?

* Filme realizado e argumentado por Richard Linklater, 2001

13 de setembro de 2010

Comunhão de joelhos

O papa Bento XVI tem vindo a desenvolver um consistente magistério litúrgico, sobretudo por força do seu próprio exemplo, pela forma como celebra: uso do latim no Prefácio e no Canon, administração da Sagrada Comunhão aos fiéis ajoelhados, recuperando antigas tradições.

A este propósito, leia-se esta entrada do blogue de Sandro Magister, o qual remete para um texto publicado no Osservatore Romano da autoria de Marco Agostini, Mestre de Cerimónias pontifício, sobre pavimentos de igrejas e a genuflexão, com cujos últimos parágrafos

«Perché la comunione in ginocchio
Benedetto XVI la vuole così, nelle messe da lui celebrate. Ma pochissimi vescovi e sacerdoti lo imitano. Eppure i pavimenti delle chiese erano resi preziosi anche per questo. Una guida alla scoperta del loro significato

di Sandro Magister

(...) Oggi l'inginocchiarsi – specie sul nudo pavimento – è caduto in desuetudine. Tant'è vero che suscita stupore la volontà di Benedetto XVI di dare la comunione ai fedeli in bocca e in ginocchio.

Questa della comunione in ginocchio è una delle novità che papa Joseph Ratzinger ha introdotto quando celebra l'eucaristia.

Ma più che di novità si tratta di ritorni alla tradizione. Le altre sono il crocifisso al centro dell'altare, "perché tutti nella messa guardiamo verso Cristo e non gli universo gli altri", e l'uso frequente del latino "per sottolineare l'universalità della fede e la continuità della Chiesa".

In un'intervista al settimanale inglese "Catholic Herald", il maestro delle cerimonie pontificie Guido Marini ha confermato che anche nelle messe del suo prossimo viaggio nel Regno Unito il papa si atterrà a questo suo stile di celebrazione.

In particolare, Marini ha annunciato che Benedetto XVI pronuncerà interamente in latino il prefazio e il canone, mentre per gli altri testi della messa adotterà la nuova traduzione inglese che entrerà in uso in tutto il mondo anglofono la prima domenica di Avvento del 2011: questo perché la nuova traduzione "è più aderente all'originale latino e di stile più elevato" rispetto a quelle correnti.

L'attrazione che ha esercitato la Chiesa di Roma su molti convertiti illustri inglesi dell'Ottocento e del primo Novecento – da Newman a Chesterton a Benson – era anche l'universalismo della liturgia latina. Un'attrazione per una fede solida e antica che oggi muove numerose comunità anglicane a chiedere di entrare nel cattolicesimo.

La "riforma della riforma" attribuita a papa Ratzinger in campo liturgico avviene anche così: semplicemente con l'esempio dato da lui quando celebra.

Ma tra i gesti esemplari di Benedetto XVI il meno compreso – sinora – è forse quello della comunione data ai fedeli inginocchiati.

Nelle chiese di tutto il mondo non lo si fa quasi più. Anche perché le balaustre alle quali ci si inginocchiava per ricevere la comunione sono state quasi dappertutto
disertate o smantellate.
(...)»

INGINOCCHIATOI DI PIETRA

di Marco Agostini

(...) I pavimenti delle chiese, lontani dall'essere ostentazione di lusso, oltre a costituire il piano di calpestio avevano anche altre funzioni. Sicuramente non erano fatti per essere coperti dai banchi, questi ultimi introdotti in età relativamente recente allorquando si pensò di disporre le navate delle chiese all'ascolto comodo di lunghi sermoni. I pavimenti delle chiese dovevano essere ben visibili: conservano nelle figurazioni, negli intrecci geometrici, nella simbologia dei colori la mistagogia cristiana, le direzioni processionali della liturgia. Sono un monumento al fondamento, alle radici.

Questi pavimenti sono principalmente per coloro che la liturgia la vivono e in essa si muovono, sono per coloro che si inginocchiano innanzi all'epifania di Cristo. L'inginocchiarsi è la risposta all'epifania donata per grazia a una singola persona. Colui che è colpito dal bagliore della visione si prostra a terra e da lì vede più di tutti quelli che gli sono rimasti attorno in piedi. Costoro, adorando, o riconoscendosi peccatori, vedono riflessi nelle pietre preziose, nelle tessere d'oro di cui talvolta sono composti i pavimenti antichi, la luce del mistero che rifulge dall'altare e la grandezza della misericordia divina.

Pensare che quei pavimenti così belli sono fatti per le ginocchia dei fedeli è commovente: un tappeto di pietra perenne per la preghiera cristiana, per l'umiltà; un tappeto per ricchi e poveri indistintamente, un tappeto per farisei e pubblicani, ma che soprattutto questi ultimi sanno apprezzare.

Oggi gli inginocchiatoi sono scomparsi da molte chiese e si tende a rimuovere le balaustre alle quali ci si poteva accostare alla comunione in ginocchio. Eppure nel Nuovo Testamento il gesto dell'inginocchiarsi si presenta ogni qualvolta a un uomo appare la divinità di Cristo: si pensi ai Magi, al cieco nato, all'unzione di Betania, alla Maddalena nel giardino il mattino di Pasqua.

Gesù stesso disse a Satana, che gli voleva imporre una genuflessione sbagliata, che solo a Dio si devono piegare le ginocchia. Satana sollecita ancora oggi a scegliere tra Dio o il potere, Dio o la ricchezza, e tenta ancora più in profondità. Ma così non si renderà gloria a Dio per nulla; le ginocchia si piegheranno a coloro che il potere l'hanno favorito, a coloro ai quali si è legato il cuore attraverso un atto.

Buon esercizio di allenamento per vincere l'idolatria nella vita è tornare a inginocchiarsi nella messa, peraltro uno dei modi di "actuosa participatio" di cui parla l'ultimo Concilio. La pratica è utile anche per accorgersi della bellezza dei pavimenti (almeno di quelli antichi) delle nostre chiese. Davanti ad alcuni verrebbe da togliersile scarpe come fece Mosè davanti a Dio che gli parlava dal roveto ardente.

6 de setembro de 2010

Rino Cammilleri, apologeta católico


De regresso de uma estadia em Roma, da qual, não me faltasse o engenho e a arte ― a escassez de tempo é mera desculpa ― muito haveria a escrever, faço a minha reentrada no mundo dos mortos-vivos que é a blogosfera com uma referência a um autor italiano de um género que, para desgraça da nação lusa e da fé na Igreja, por cá não se pratica: a apologia do catolicismo. Na Itália são muitos os apologetas que não se calam perante as permanentes investidas dos progressistas anticatólicos, os quais, com ou sem fundamento, a propósito e a despropósito, se dedicam à revolucionária missão de atacar a Igreja, a qual é, segundo Gramsci, o maior inimigo da revolução.
Rino Cammilleri, a cujo conhecimento cheguei por feliz acaso, melhor, pela mão da Providência, através do livro L'ultima Difesa del Papa Re - Elogio del Sillabo di Pio IX, no qual tropecei num alfarrabista situado numa passagem subterrânea para peões na Via del Tritone, a caminho da Piazza Barberini.
Neste livro, Cammilleri, após uma extensa introdução, na qual contextualiza historicamente o Syllabus errorum, apenso à encíclica Quanta cura de Pio IX , comenta, uma a uma, as proposições condenadas naquele documento. Desse modo, Cammilleri fornece ao leitor ignorante, como eu, chaves de compreensão do controverso texto e demonstra que Pio IX anteviu, se quisermos profeticamente, os efeitos corrosivos das proposições liberais condenadas, muitas das quais constituem artigos de fé do pensamento correcto vigente. Chega-se à conclusão, ainda, de que muitos desses artigos de fé são actualizações de heresias cristãs, ocorrendo dizer: nada disto é novo.

A propósito, pode mencionar-se a relação apontada por Cammilleri entre o ecologismo radical e a heresia cátara-albigense, para a qual o Homem é uma força do mal, agente destruidor, cuja população urge controlar, no extremo eliminar.
Aqui fica, para aguçar o interesse e para instrução dos interessados, o excerto do livro concernente à terceira proposição condenada, com a qual tem início a passagem:
Allocuzione Maxima quidem, 9 giugno 1862

Quell'esercizio onanistico della ragione che si chiama «utopia» e che consiste nel mettersi a tavolino e «ragionare» su come si possa fare felice l'umanità riorganizzandole l'esistenza, un giorno, come è noto, cessò di essere trastullo di gente come Platone, Thomas More e Bacone per passare nelle mani di Rousseau, Robespierre, Marx. Cominciarono così gli «ismi» e il sangue non cessò più di scorrere, inaugurando un'era di inaudita sofferenza per quell'umanità che, al confronto, aveva prima al massimo qualche problema pratico.

Il Sillabo preannuncia gli esiti funesti di tutti gli «ismi»; anche dell'«eclettismo» (come si diceva allora), cioè del sincretismo, che poi sarebbe lo zio (se non il padre) dell'attuale New Age. Il Sillabo dice ai suoi contemporanei: attenti perché, malgrado le grandi promesse e speranze che cominciano a baluginare, poi va a finire male. È la messa in guardia dalle ideologie, schemi di pensiero che rovesciano la dialettica cristiana; quest'ultima parte dalla vita, dall'esperienza, e sale al pensiero, laddove quelle fanno il contrario. « Cominciamo col togliere di mezzo tutti i fatti», diceva Rousseau nell'incipit del suo Discours de l'inégalité parmi les hommes. Ci vo leva coraggio, da parte di Pio IX, perché davvero a quel tempo il cristianesimo doveva sembrare il passato e le nuove ideologie il radioso avvenire. Ci voleva realmente la statura del profeta per non lasciarsi abbagliare dagli ideali di allora, Nazione, Libertà, Democrazia, che tanti generosi idealisti (giovani soprattutto) andavano coinvolgendo.

Noi oggi abbiamo sotto gli occhi due nuovi «ismi» che, paradossalmente, esaltano come «futuro» un ritorno al passato, anche se si tratta di un «passato» immaginario, come quel famoso «stato di natura» che esisteva solo nella testa senza parrucca dei philosophes.

Il primo è l'ecologismo, cioè la religione (perché come fede fanatica è vissuta) che vede nell'uomo un fastidioso e inquinante abitatore di Gaia, la terra, essere «vivente» su cui l'umanità vive da parassita. La maggiore organizzazione internazionale, l'ONU, ha non a caso programmato il «numero chiuso», con politiche di contenimento coercitivo delle nascite, malgrado i più autorevoli scienziati del mondo abbiano da tempo sfatato tutti i terrorismi ambientali, dal mito dell'esaurimento delle risorse a quello del fantomatico «buco nell'ozono». Non è un caso che proprio gli ambienti che hanno sempre inveito contro ogni forma di «colonialismo» plaudano alle decisioni che dispongono in modo brutale dei destini di interi popoli, pretendendo anche di stabilire quanti, come e dove abbiano il diritto di procreare e di nascere. È quantomeno singolare che una sfiducia così disperata nelle possibillità dell'uomo provenga da chi del «progressismo» ha fatto una bandiera. L'odio per la vita, per la procreazione, per il matrimonio sono antichi quanto l'eresia gnostica.

Basti pensare ai Catari del Medioevo, che predicavano il suicidio e i rapporti non fecondi. Ma l'attuale Cina ancora comunista fa lo stesso (per Del Noce, lo ribadiamo, il comunismo è un «movimento gnostico di massa»), permettendo solo il figlio unico, cosa che provoca ecatombi di femmine, perché le famiglie, potendo avere un solo figlio, lo vogliono maschio. Filippo di Edimburgo, uno dei fondatori del WWF: «Se rinascessi, mi piacerebbe essere un virus letale, per contribuire a risolvere il problema dell'eccesso di popolazione». Fulco Pratesi, nel 1989 presidente del WWF italiano: «Le ricorrenti notizie di famiglie sterminate dai funghi costituiscono un buon deterrente e un discreto disincentivo alla loro raccolta selvaggia». Curioso (ma non troppo) antecedente: nella Germania nazista vigeva il divieto di vivisezione e sperimentazione su animali; la legge recava la firma di Góring. Inquietante mescolanza, in un'unica testa, di razionalismo, irrazionalismo, ecologismo: sir Arthur Conan Doyle, ex cattolico, inventore dello «scientifico» Sherlock Holmes (singolare anticipazione di certa modernità: il misogino investigatore si drogava), era spiritista, come sappiamo, e credeva nelle fate; ma scrisse anche un racconto su un luogo in cui sopravvivono i dinosauri (Un mondo perduto) e uno in cui la terra viene presentata come un immenso essere vivente (E la terra urlò).

L'altro insospettabile «ismo» dei nostri giorni è il fondamentalismo. Secondo Samuel N. Eisenstadt, professore all'Università di Gerusalemme, si tratta di un fenomeno assolutamente moderno, che non rappresenta affatto - dice lo studioso - un ritorno indietro, bensì una «moderna utopia giacobina antimoderna», provvista di una rigidissima disciplina partitica e facente largo impiego di moderne tecnologie di comunicazione e di propaganda. Dietro l'apparenza di un richiamo all'ortodossia, è composto in realtà da movimenti fortemente eterodossi, di tipo totalitario. Non per niente esso è nato e si è sviluppato negli USA, attecchendo di preferenza in società protestanti; quelle cattoliche, conclude l'Eisenstadt, ne sono immuni, grazie alle «funzioni mediatrici» del papa e della Chiesa.
Autor a seguir; livro a ler.

NB: publicado simultaneamente, com algumas adaptações, em Nada Disto É Novo.